quarta-feira, 23 de novembro de 2011

o Corsa

A relação já há muito tempo que estava a arrefecer. Havia qualquer coisa no ar, para além da música do Phil Collins que ela insistia em ouvir repetidamente. Seria um pronuncio de morte do namoro?
Ela queixava-se daqueles finais de Sábado, sempre passados no mesmo parque de estacionamento, que com mais ou menos discussão, acabava sempre no mesmo.
Ela estava farta, queria dar o próximo passo. No fundo ele sabia que ou evoluía ou a relação morria.
Foi por isso que nesse dia decidiu fazer-lhe uma surpresa: marcou um quarto para aquele hotel perto do parque. Aquele que tinha uma vista fabulosa sobre o mar. Aquele que ela estava sempre a falar: da vista e de como deveria ser fantástico estar lá no abrigo dos lençóis com a tempestade invernal lá fora. “Vai valer a pena o dinheiro que gastei no hotel “- pensou ele. Afinal, o que ele fez foi evitar o concerto mecânico do velho Corsa que teimava em aquecer.
- Para onde me levas? Perguntou ela.
- Já vais ver. É uma surpresa. Disse ele com um sorriso convencido.
- Mas este é o caminho para o parque. Retorquiu ela, já com um ar de enjoada.
- Também é. Respondeu ele com um ar enigmático.
A temperatura subia, não era só a dele, o termóstato do carro já há muito vinha no vermelho.
“Só mais um pouco”, implorava ele ao carro. Este não lhe fez a vontade. Talvez porque o velho radiador necessitava mesmo de ser substituído. Ou talvez porque o carro já não aguentava mais do que aquele percurso até ao parque. Pois foi aí mesmo que ele ficou.
- Eu sabia. Disse ela possessa da vida.
Saiu e bateu a porta com violência. Acendeu um cigarro e aí ficou de costas para o carro. Ele, não queria acreditar no que tinha acontecido. Ficou a olhar para ela lá fora, a fumar.
Estava com aquela saia curta que, tanto jeito dava. Reparou que hoje tinha apenas a blusa sobre o corpo. Ele também começou a aquecer. Fez-se homem e saiu.
Quando chegou ao pé dela, reparou melhor no decote, deixava antever os seios. Perfeitos. E naquela saia as suas coxas eram afrodisíacas. Ela reparou no olhar dele. Baixou a guarda, deitou fora o cigarro e como se já não houvesse amanhã, beijou-o sofregamente.
Ele num gesto repentino agarrou-a pelas ancas e empurrou-a contra o carro. Possui-a ali mesmo. Nunca tinham feito sexo desta forma. Como ela gritava, toda ela era movimento.
- Despacha-te. Gritou!
Mal ele terminou, ela levantou-se num salto e exclamou:
- A porra do capot está a escaldar! Disse ela.
“Afinal o radiador do carro, no seu último suspiro, ainda me ajudou”. Pensou ele
Posted by Picasa

Sem comentários:

Enviar um comentário