El amor es una migaja entre dos ambres
(Mário Benedetti)
Começo sempre do
princípio, de cada vez que o meu corpo encontra o teu, na procura e na
descoberta do teu toque e do sentir-te mas ao mesmo tempo como somatório de
tudo o que vivi até aqui mais o que já é o meu conhecimento futuro, ainda que
seja só a reacção que sei irás ter ao arrastar da língua pelas costas ou
pescoço ou o tocar-te ao de leve com os dedos …
(suspiro) 15Out2015
Sentia-se ansiosa, e ao mesmo tempo vazia, como se o
seu corpo sentisse a falta do dele. Uma ansiedade pela falta do outro.
Não percebia muito bem mas era aquilo que sentia. Era
como que se o seu corpo estivesse ausente, tivesse deixado de existir, tivesse
perdido todas as células por não sentir o seu toque, o seu cheiro. Ah… se
pudesse tocá-lo ao menos, com a ponta dos dedos, as palmas das mãos, a língua
(suspiro), o rosto e … o corpo todo (suspiro pronunciado).
Lembrou-se como era fácil então, algumas palavras,
tantas vezes só uma, ou nem isso, um suspiro, para que estivessem juntos.
Bastava-lhe precisar, para que se tornasse realidade, para o sentir
encostado a si, o calor do corpo, o arrepio da pele, a vibração do sentir, o derretimento
do desejo lascivo no corpo e no pensar, o olhar de incontáveis palavras.
Lembrou-se do calor viscoso do mel, escorrendo-lhe pela língua, garganta
abaixo, e o cheiro, e o olhar desorientado, perdido em sentir. Passavam horas, esfregando
a língua, os dedos, e literalmente o corpo todo, … penetrando voltando a
penetrar ou apenas à porta, em tom de ameaça, mudando de posição, de lugar e forma, mais suave e carinhosa depois
mais violenta e premeditadamente ordinária em gritos e insultos de toda a
ordem, quase urrados, chegando ao fim de umas quantas horas, adormecia,
ele ou ela, ou os dois, quase se ouvia o respirar de alívio (basta!), encharcados em suor
e sem mais pingo de saliva ou de fluídos, sem mais orgasmos… , adormeciam onde
estavam, tantas vezes um debaixo do outro, sem conseguir respirar lá muito bem
…
Sentiu um arrepio gostoso, e um calor de dentro.
Suspirou sentido a ausência de tudo isso,
mas também, e porque não, do dormir aninhada naquele abraço gostoso, sereno, pleno.
A memória deixou-a ainda mais um sentimento de vazio,
por dentro e por fora.
De ausência.
Olhou a realidade ao seu redor, bebericou mais um pouco
de chá e subiu.
Tentou adormecer, agarrada aos lençóis e almofadas
sentindo o frio de dentro tomar conta de si …