sábado, 13 de fevereiro de 2016

fomes







El amor es una migaja entre dos ambres

(Mário Benedetti)


Começo sempre do princípio, de cada vez que o meu corpo encontra o teu, na procura e na descoberta do teu toque e do sentir-te mas ao mesmo tempo como somatório de tudo o que vivi até aqui mais o que já é o meu conhecimento futuro, ainda que seja só a reacção que sei irás ter ao arrastar da língua pelas costas ou pescoço ou o tocar-te ao de leve com os dedos …

(suspiro) 15Out2015





Sentia-se ansiosa, e ao mesmo tempo vazia, como se o seu corpo sentisse a falta do dele. Uma ansiedade pela falta do outro.

Não percebia muito bem mas era aquilo que sentia. Era como que se o seu corpo estivesse ausente, tivesse deixado de existir, tivesse perdido todas as células por não sentir o seu toque, o seu cheiro. Ah… se pudesse tocá-lo ao menos, com a ponta dos dedos, as palmas das mãos, a língua (suspiro), o rosto e …  o corpo todo (suspiro pronunciado).

Lembrou-se como era fácil então, algumas palavras, tantas vezes só uma, ou nem isso, um suspiro, para que estivessem juntos. Bastava-lhe precisar, para que se tornasse realidade, para o sentir encostado a si, o calor do corpo, o arrepio da pele, a vibração do sentir, o derretimento do desejo lascivo no corpo e no pensar, o olhar de incontáveis palavras. Lembrou-se do calor viscoso do mel, escorrendo-lhe pela língua, garganta abaixo, e o cheiro, e o olhar desorientado, perdido em sentir. Passavam horas, esfregando a língua, os dedos, e literalmente o corpo todo, … penetrando voltando a penetrar ou apenas à porta, em tom de ameaça, mudando de posição, de lugar e forma, mais suave e carinhosa depois mais violenta e premeditadamente ordinária em gritos e insultos de toda a ordem, quase urrados, chegando ao fim de umas quantas horas, adormecia, ele ou ela, ou os dois, quase se ouvia o respirar de alívio (basta!), encharcados em suor e sem mais pingo de saliva ou de fluídos, sem mais orgasmos… , adormeciam onde estavam, tantas vezes um debaixo do outro, sem conseguir respirar lá muito bem …


Sentiu um arrepio gostoso, e um calor de dentro.


Suspirou sentido a ausência de tudo isso, mas também, e porque não, do dormir aninhada naquele abraço gostoso, sereno, pleno.


A memória deixou-a ainda mais um sentimento de vazio, por dentro e por fora.


De ausência.


Olhou a realidade ao seu redor, bebericou mais um pouco de chá e subiu.


Tentou adormecer, agarrada aos lençóis e almofadas sentindo o frio de dentro tomar conta de si …