terça-feira, 25 de julho de 2023

A combinação



Passou por mim de gás, a caminho da cozinha e pareceu-nos ouvir gritar em inglês, um pepino, o meu reino por um pepino.

Bem sei qual era o problema, mas desde que a malta descobriu que era uma ninfomaníaco-depressiva, toda a gente fugia dela, e nem que estivéssemos aflitos ninguém lá ia nem que ela nos pedisse muito, e os que já lá tinham estado fechavam as portas dos quartos à chave nas noites de lua cheia que coincidiam com as vésperas das suas “marés vermelhas”. Mais valia deixar sempre um bom stock de pepinos na copa que ter de a aturar.

Ela também não enganava ninguém, quando nas antevésperas destes calores perguntava ao cozinheiro se lhe podia arranjar uma saladinha de pepino, toda a gente sabia.

No pior cenário, mais valia recorrer aos amigos de longa data, que são cinco, e às substitutas que encontrávamos de caminho, em cada port-of.call.

Uma vez tive uma cena com uma, dessas substitutas tristes e sem graça, sem grande vestimenta de cara ou de corpo, que apenas são simpáticas e prestáveis. Já nem me lembro bem onde foi, num café qualquer, durante o pequeno almoço, lá engraçou comigo e flirtou um pouco. Como ficamos alguns dias naquele porto, acabei por ir lá quase sempre de manhã, tomar um expresso e um croissant, e ler um pouco. Num dos dias estava atrapalhado com o serviço e até saltei o pequeno almoço, de modos que no dia seguinte quase reclamou por não ter aparecido. Esbocei um sorriso. Dali a nada passou outra vez por mim e eu perguntei entredentes, sentiste a minha falta? Não, disse ela, enquanto que o olhar e expressão corporal descaiu um pouco para o lado da mentira e mais qualquer coisa que não consegui perceber.

Quando ia-me levantar para sair, ia a passar por mim e no meio de um encontrão que me deu atirou para cima do livro um pedaço de papel amarrotado.

Guardei-o no bolso, paguei e sai. Já fora dali olhei e vi que era um número de telefone. Olhei para trás sem conseguir descortinar nada para lá do reflexo dos vidros do café.

Liguei

Combinamos

Cheguei e ordena-me ela: amarra-me e dá-me tau-tau!