sábado, 31 de dezembro de 2011

Contos do Varão II



Ela fazia o espectáculo como de costume, subindo e descendo o Varão Vermelho, dançando à sua volta, em gestos de maior ou menor acrobacia, destreza física, ou arrojo, esfregando o avantajado peito ou o nalguedo, por vezes as beiças, no varão polido de cor mercúrio-cromo.
À sua volta a habitual mole de babões, em estados de alcoolémia vária que proferiam obscenidades diversas acompanhados de assobiadelas e promessas de lhe fazerem sentir algo mais quente e duro que aquele varão de aço. Eram os tipos do costume, os que todos finais de mês, enchiam os bolsos de coragem, para vir ao Varão Vermelho assistir aos espectáculos diários e contínuos.
Mas naquela noite reparou que na segunda fila estava por lá um gajo que, de copo na mão e cigarrilha na outra, que a observava fixamente nos olhos quase sem se mexer e sem proferir qualquer palavra.
Esta atitude intimidatória assustou-a. Já tinha visto espelhadas na clientela expressões de toda a ordem, desde os tarados, aos simplesmente bêbados, muitos mais do que gostaria de se lembrar e, tentando não mostrar hesitações, continuou o espectáculo fazendo por se abstrair do tipo que estava ali,
Não conseguiu, e ele, também não parou o que estava a fazer.

Quando recolheu ao camarim, o Toni vem ter com ela e diz-lhe:
-- Ouve lá arranja-te que tens um cliente para uma sessão na cabine.
-- Ah? Não me digas que era o depravado fdp que não sacou os olhos de cima de mim o tempo todo.
-- Esse mesmo, mas ele é meu amigo e vê lá se o tratas bem se não vou-te ás fuças!
Foi para a cabine onde ele a esperava nas sombras.
-- Dança, só te peço que dances para mim. Não tens de te despir, nem te vou pedir mais nada.
Mais um tarado, pensou ela.
E ela dançou, e dançou, e dançou, e ele sacou de uma cigarrilha, atrás de outra cigarrilha,
Sem ela se aperceber, tinha terminado o tempo, ele interrompeu-a, colocou-lhe o dinheiro na mão e saiu sem palavra.
Ela mal se apercebeu, mas julgou sentir nesse instante a mão dele trêmula e suada.

Ele, sem uma qualquer regularidade, voltava ao Varão Vermelho, observava-a da segunda fila e sempre, a seguir, ela dançava para ela na sessão privada da cabine.

Uma das noites, antes do espectáculo o Toni chamou-a à parte.
-- Olha lá, tu sabes que eu não tenho nada com isso, mas sei que tu por fora fazes uns programinhas para alguns clientes especiais. Como costuma ser? E não quero saber o preço, já sabes que eu não tenho nada com o que se passa fora da porta.
-- Ó Toni, sabes que eu a esses regulares eles levam-me a jantar e depois vamos para um motel e de manhã deixam-me na baixa ao pé de uma praça de taxis para eu seguir o meu caminho. Não levo muito, 250 a 500 paus, depende das manias de cada um. Mas não embarco em taradisses.
-- Pois. Eu sei. Tu sabes que o “tipo misterioso”, como tu lhe chamas, que costuma vir aí para te ver é meu amigo. Mas amigo mesmo, não é como os outros merdas que por aí há. É um gajo á séria. E ele falou-me que queria muito estar contigo. Ele paga o que tu achares que deve ser! E dou-te a minha palavra de honra que é gajo sério! Para tu veres, sou capaz de te pagar já do meu bolso o que tu me pedires! Que dizes?
-- É lá, deve ser um tipo mesmo especial, nunca te vi assim.
-- Histórias antigas, não queiras saber! Como é afinal, posso dizer ao homem que sim?

Ela ficou admirada, pois o Toni nem era de muitas falas e aquele “parlapièrre” todo tinha-a deixado bastante curiosa. Assentou que sim, o tipo até tinha um aspecto interessante, daqueles que apetece levar para a cama, e da vez seguinte que ele veio, depois do espectáculo, ele esperava-a na porta de serviço num Cooper vermelho.
-- Desculpa, eu nunca te disse o meu nome, chamo-me Alberto. Sei que te chamam Alcina Mattrix, mas não preciso que me digas o teu nome. Posso-te chamar Lina?
-- Sim, se quiseres.
Abriu-lhe a porta e ajudou-a a entrar.

Levou-a para um motel. Perguntou-lhe se tinha fome, se queria jantar alguma coisa que ele podia pedir à recepção que eles ali tinham um bom serviço.
Ela disse que não.
Ele foi à casa de banho e regressou de roupão que, entreaberto dava para adivinhar os boxers pretos por baixo.
Pediu-lhe então para dançar para ele no varão que havia ao fundo da cama.

Ele aconchegou-se na cama para assistir, e ela dançou durante algum tempo para ele, que se manteve imóvel e atento, à cabeceira da cama, como quando assistia ao seu espectáculo, até que ele foi buscá-la pela mão e a deitou na cama.

Durante as horas seguintes, tudo o que fez para a descontrair levou-a ao rubro de uma forma que nunca tinha estado com ninguém, sempre com as mãos a boca e a língua, por vezes os dentes, ele usou e abusou de todas as partes do corpo dela, fazendo a ter diversos orgasmos de formas que ela nunca tinha sentido ou sonhado ser possível. Porêm, sem nunca a beijar, nem a penetrar alguma vez que fosse, a não ser com os dedos ou a língua.
No meio da embriaguez sôfrega da loucura orgâsmica daquele sentir, para ela único e surpreendente, lembrou-se que afinal ele ali é que era o cliente e tentou inverter posições e até tocar-lhe no membro, mas ... ele travou-a com a mão. -- NÃO.
-- Então?...
Ele sentou-se e perguntou-lhe.
-- Fiz-te sentir bem?
-- Pois, isso é que é estranho, o cliente aqui és tu ... (ele tapou-lhe a boca com a mão).
-- Esquece isso. Fiz-te sentir bem?
-- (ela revirou os olhos e mordeu o lábio) Demasiadamente bem, nunca ninguém me tinha feito o que tu me fizeste. Mas ...
-- Porquê, é o que queres saber? É justo.
Os dois sentados na cama e ele começou,
-- Eu sei que tu não és uma reles rameira como as outras, vê-se-te isso nos olhos, e o Toni disse-me que tu és rapariga séria e que sabes calar a tua boca por isso é que lhe pedi para ele me ajudar. Como sabes bem eu tenho ido lá ao Varão, gosto da maneira como tu danças e fico doente de cada vez que olho para o teu corpo, e o teu geito, só lamento não te poder tocar mais do que aquilo que viste e sentiste agora.
Fraco pagamento físico para o bem que tu me fazes sentir.
Acontece que eu não posso fazer mesmo mais que isso mesmo. O Toni provávelmente não te disse de onde nos conhecemos, também não te vou dizer exactamente de onde mas, conhecemo-nos há muito anos, fizemos vida militar juntos.
Um dia, durante uma missão, debaixo do fogo inimigo, passamos um mau bocado e eu fui atingido quando tentava retirar com o Toni. Ele estava ferido. Acordei numa cama de hospital todo entubado e só alguns dias depois me apercebi do que se tinha passado.
Fui atingido entre as pernas e para além de algumas cicatrizes, não tenho pénis. Tenho uma pequena sonda por onde urino, mas o pénis foi desfeito e foi-me por isso retirado.
Os olhos dela mudaram de atentos para emudecidos.
-- Provávelmente é a paga pelo mal que sempre fiz às mulheres, às namoradas e prostitutas que sempre tratei mal.
Desde então, posso dizer que vivo bem, habituei-me a saber lidar com esta questão. É assunto do qual não falo a ninguém e és tu a primeira mulher a quem falo disto. Peço-te por isso o eu silêncio e o teu respeito. Peço-te sobretudo que não voltemos mais a falar neste assunto, nem quero que me toques mais aí.
Ela estava cada vez mais emudecida. Olhou-o nos olhos e articulou com dificuldade as palavras,
-- Estou sem palavras. É justo o que me pedes. Mas acredita que fico confusa, pois vim eu aqui para te der prazer e afinal eu é que saio satisfeita.
Ele sorriu.
-- Mas ... não queria que me levasses a mal, mas eu preciso ver para tentar perceber um pouco. Não te gozo, não ...
Ele mostrou-se quase zangado mas olhando para ela acedeu, com muita dificuldade, e baixou os boxers. As cicatrizes que tinha entre as virilhas até quase ao umbigo eram horrendas, tinham escrito a falta de cuidado do hospital de campanha.
Ele olhou-a nos olhos, viu-os esbugalhados e vermelhos. Estendeu a mão, agarrou numa das mãos dela e encostou-a às cicatrizes para que ela pudesse sentir. E viu-lhe nos olhos a dor, de quem tentava perceber.
Ela puxou-lhe os boxers para cima, finalmente deu-lhe um longo e prolongado beijo, e deitaram-se os dois abraçados um ao outro. Ela esvaida em lágrimas silenciosas, e ele, a soluçar frenéticamente.

Quando acordaram sorriram um para o outro. Tomaram banho, e pequeno almoço e ele, conforme o combinado, deixou-a na praça de táxis e seguiu o seu caminho.

Algum tempo depois, numa das noites quando foi trabalhar, viu o Cooper estacionado junto à porta de serviço e quando entrou ele esperava-a. Apertaram-se num abraço e ele perguntou como ela estava e se podia sair com ele outra vez, depois do espectáculo. Ela sorriu que sim.

Ele sempre tinha sido um cliente irregular, continuou a sê-lo, mas as suas saídas à noite, para o motel, prolongavam-se sempre até de manhã, ao pequeno almoço. Ela saia sempre de lá com vontade de ficar pois ele tinha sido sempre um cavalheiro, e um amante perfeito, quer dizer, quase, e durante todo este tempo tinham-se tornado amigos e confidentes.
Ela foi conseguindo que ele se abrisse cada vez mais e, sempre sem tocar no assunto ou no local proibido, foi conseguindo que também ele sentisse algum prazer, com massagens, beijos e lambidelas de toda a ordem. Ele era afinal um homem bonito, mas mesmo que não o fosse, fazia-a sentir sempre tão bem que era o homem perfeito. Numa noite qualquer ou num acordar de manhã à conversa, os dois deitados frente a frente, se abstraíssem um pouco, eram um casal a ter uma conversa de cabeceira perfeitamente normal, uma conversa de cabeceira igual a tantos outros casais. Só não eram um casal, pois ele era um cliente.

Uma noite qualquer, ela disse que tinha uma surpresa para ele e pediu que ele fechasse os olhos para colocar uma coisa.
Quando se apercebe o que se estava a passar, ele abre os olhos,
-- Sua grandessíssima ...
Atira com a prótese para o fundo do quarto, dá-lhe um violento estalo e sai porta fora.

Ela nunca mais o viu.

O Toni deu-lhe uma descasca do pior e por pouco não a desancou também. A partir daí, e até hoje, ela recusa contacto físico com toda a sorte de homens, apenas dança.

A dança dela no Varão deixou de ter a mesma graça, até que uma amiga e confidente lhe disse,
-- Porque não fazes como eu? Eu quando danço esqueço aquela corja de bêbados e finjo que estou a dançar para o meu Quim, nem os consigo ouvir e saio dali melhor. Por que não fazes o mesmo?

A partir daí passou a trabalhar melhor, e até o Toni, que a esteve quase a mandar para as couves, parecia mais satisfeito.

Às vezes, no meio da dança, fecha os olhos e tem a nítida sensação que ele ali está, naquela segunda fila. Abre os olhos e enfrenta a dura realidade.

Mas, às vezes, ele, nas sombras do bar, vê o espectáculo dela e sabe que é para ele.

Nessas noites, ela encontra no camarim uma rosa vermelha.
Nessas noites adormece a chorar, pois nunca lhe dissera o seu nome.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Na bouça


Um dia depois de receber fez o que às vezes fazia quando tinha mais uns dinheiritos e se lhe apertavam as vontades.
Como nunca fora um homem de torrar dinheiro na tasca a beber vinho de qualidade duvidosa e a jogar à sueca com o resto da corja, foi ao único sítio em que as certezas eram certas e o dinheiro bem empregue, ainda que, nem sempre.
Naquela manhã, como estava de folga, foi até à bouça que havia em frente ao portão da fábrica, que era o local por onde costumavam andar umas raparigas da vida e por certo encontraria lá uma que lhe resolvesse as ardências e calorências que lhe atormentavam as noites, mas também os dias, já que nunca fora homem de se aliviar sozinho, dizia sempre que «...isso é coisa para maricas!».
Não havia por lá grande escolha, das três que por lá estavam, duas estavam a aviar fregueses e a terceira era a vesga. Além de vesga era coxa, mas o desespero era tanto que ele não esteve para esperar por nenhuma das outras mesmo até porque, já vinham com as máquinas aquecidas e oleadas pelo freguês anterior, algo que não gostava muito.
Foi ter com a vesga.
-- Olha lá, quanto é o tombo?
Ela olhou-o (ficamos sem saber com que olho) e respondeu: depende meu lindinho, o que é que tens em mente?
-- Em mente tenho mesmo é foder-te mas só tenho 20 euros. Como é?
-- Com a crise que está, deixa cá ver a pasta e vê se te despachas pois tenho de ir fazer o almoço à minha mãe que está entrevadinha.
Levou-o para o meio de umas giestas onde estava um colchão velho, com um aspecto que nos escusamos a descrever porque temos nojo. Deitou-se e abriu as portadas da loja para a conclusão do negócio.
-- Nada disso, exclamou ele, agarra-te ali àquele pinheiro e dobra-te que eu vou-te mas é por trás, que não suporto olhar-te para esse olho torto.
Assim fez e ela lá se agarrou bem ao pinheiro, enquanto ele lhe afinfava nas carnes.
Nada o fazia parar, nem mesmo a buzina da fábrica tocando para o almoço, nem os colegas que passavam e que lhe iam acenando.

Quando acabou, limpou a ferramenta na borda da saia da rapariga e pôs-se na alheta.

Ela arranjou a saia, sacudiu-se e acelerou pela bouça fora para ir fazer o almoço à mãe.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Conto de Natal



Naquela Noite, como em todas as noites como aquela, era a única noite do ano em que trabalhava, e era assim desde que se conseguia lembrar.
Não que não trabalhasse todos os dias, como o resto das pessoas, mas aquela era efectivamente a única noite que trabalhava.
Na verdade ele trabalhava nesse dia durante 24 horas, mas sempre, de noite.
Sempre fora um conceito confuso de entender, mesmo para ele próprio, e já fazia isto há ... tantos anos que já não se conseguia lembrar quantos.
Fora essa noite, trabalhava todos os dias, em horário normal, com afinco e muito amor, lá na fábrica dos sonhos, a “Valmistaa Unelmia”, como se dizia no dialecto local. A produção da fábrica era toda orientada para uma clientela muito específica, com uma estupenda implantação no mercado mundial, gabava-se pois de ter clientes nos quatro cantos do Mundo o que, como se sabe, não faz qualquer sentido, já que o Mundo é redondo.
A produção de todo o ano era escoada numa longa noite de Inverno, ou Verão, dependendo da região do globo, satisfazendo todos os seus clientes, algo que não é fácil, porque a clientela era exigente e meticulosa nas encomendas e sobretudo díspar, nos seus pedidos.
Ainda assim, conseguia gabar-se de trazer alegria e felicidade a todos.
Curiosamente este negócio, e contráriamente às razões de se fazer um negócio qualquer, este trazia sobretudo prejuízo, já que os seus clientes não lhe pagavam. Quer dizer, pelo menos em dinheiro, em vil metal, ficavam-se apenas por um conjunto de boas intenções, feitas de alegria e sorrizos e outras moedas não transaccionáveis, o que, como será fácil de supor, constituia-se num problema quando é necessário repor a massa salarial aos empregados e pagar aos fornecedores. Constituia-se igualmente um problema em casa, como de resto em qualquer casa, quando se trata de pôr comida na mesa.
A outra única forma de pagamento era em géneros, onde quer que fosse, deixavam-lhe sempre um pratinho com qualquer coisinha para comer, e para beber uma coca-cola ou um copo de leite, ou bagaço, o que, muito trazia à laia de explicação sobre a sua compleição física.
Apesar de tudo isso, gostava do seu trabalho e sobretudo era feliz.
A sua esposa, uma senhora com os predicados físicos das melhores super-models e com as formas de fazer parar os trenós, portanto tudo no devido lugar, enchia-o de paparicos, e tudo suportava, tal era a incomensurável dimensão do amor que lhe nutria.
Pacientemente, nessa longa noite de 24 horas, esperava-o do trabalho, invariávelmente com o seu prato predilecto à espera, uma especialidade de um dos países do Sul, um Turska että Joe Leija (bacalhau à Zé do Pipo), um escalda-pés para lhe aliviar das agruras da viagem e dos martirizados joanetes, e as pantufinhas.

Naquela noite, ao chegar a casa, Nicholas reparou que a esposa o esperava à porta. Recebeu-o com um beijo e perguntou:
-- Como correu meu querido?
-- Bem, o costume.
-- Queres jantar?
-- Se queres saber não tenho grande apetite.
Entraram, ela conduziu-o ao sofá frente à lareira, e ajudou-o a descalçar os pés para dentro do escalda-pés que estava, uma fervurinha!
-- Não te preocupes que eu trato das renas. Toma o teu remédio que eu já volto.
Desapertou-lhe os botões do casaco, tirou-lhe o gorro e beijou-o na testa antes de sair.
Ele fez o que ela lhe disse, nem forças tinha para articular mais palavras.
O escalda-pés, o calor da lareira e o remédio fizeram o resto, ali adormeceu, como um passarinho.
Acordou passado poucos minutos, uma meia-hora, se tanto, sobressaltado.
Por um lado tinha a nítida sensação que tinha a braguilha aberta e por outro que não ia conseguir dormir essa noite, sentia-se acelerado e para além disso, tinha a impressão, mas só a impressão, que a sua esposa não o queria ver a dormir. Pelo menos a julgar pela forma como lhe estava a saltar em cima, cavalgando-o como um equídeo qualquer, em movimentos ritmados acompanhados de toda a sorte de gritos e latidos.
Abreviando a história, a noite lá se fez dia e acordou a meio da tarde, com uma impressão de ressaca.

A esposa entra e coloca-se à sua frente, e abre parcialmente o roupão vermelho debruado a branco, descobrindo a sua pele branca leitosa, coberta apenas por um ténue fio dental e pergunta:
-- Nicholas, queres que te dê a tua prenda agora ou depois do almoço?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Punheta


-- Ó Mulher, faz-me uma punheta de bacalhau!

E lá se sentou ele à mesa com o pão, o vinho e a mais deliciosa das punhetas que alguém lhe tinha feito. Naquele dia a mulher tinha caprichado, por um lado o bacalhau era excelente, norueguês, e muito bem demolhado, com o sal no ponto certo, a cebola era picante mas não em demasia, as azeitonas da Filha da Mãe Preta, que a cunhada trouxera lá do Norte no fim de semana, e o azeite ... um verdadeiro néctar dos deuses.
Tudo estava a saber bem, a cada garfada, cada naco de pão, e cada gole de vinho.
Ia a garrafa a meio e deu por si a reflectir na vida e, na gaja que tinha à frente, no porquê de estar com ela e na evolução que os sentimentos tinham levado desde que o dia em que disse o “sim” até àquela noite chuvosa de quase Inverno onde por mero acaso fazia anos, e deu-se ao luxo de ordenar à mulher que lhe fizesse uma punheta. A vida dá muitas voltas e as voltas que a vida dele deu não foram as melhores, mas enfim, ia-se vivendo à razão de um dia de cada vez.
Neste entretanto, e desde que lhe pediu para fazer a punheta, a mulher não se tinha mais calado, queixava-se de tudo e mais alguma coisa, da sanefa do quarto que tinha caído, da lâmpada das escadas do prédio que tinha fundido, da roupa que ele atirava para o chão, das meias que descobriu na máquina de lavar louça, do cabelo e unhas que precisava de arranjar mas que não podia por causa do dinheiro que ele gastava em copos e no futebol com os amigos, e do clássico ... da tampa da sanita. Uma gralha daquelas que dá vontade de lhe dar um sopapo para a mandar calar. O que lhe valia, pensou, é que não só não estava a prestar atenção como já não a estava a ouvir bem, ensurdecia a cada gole do vinho o que, bem vistas as coisas, lhe parecia bem.
Naquela noite, apesar do frio, a mulher que sempre fora uma mulher acalorada, estava sentada à sua frente na mesa, com a bata por cima da roupa, por baixo trazia uma blusa com um decote enorme que lhe deixava ver que a combinação e, não cobria nada bem o colo do avantajado peito que ela tinha. Deu por si a pensar, no meio da neblina de origem vinícola que se começou a formar nos seus pensamentos, que era afinal o que ele mais apreciava nela desde os tempo de namoro, e de onde aliás resultaram então incontáveis sonhos húmidos e esgalhadelas de pessegueiro.
Mandava um peito avantajado e bem feito que, ao longo dos anos, e mesmo apesar dos filhos e dos quilos a mais, se tinha mantido muito bem.
Desde que a tirou da vida, conheceram-se no “Varão Vermelho”, onde ela se esfregava no poste apenas de fio dental, e onde noite após noite a ia ver actuar ( o que normalmente dava asneira pois ficava tão quente que ora tinha de ir aliviar a galga ao WC ou, quando tinha mais umas massas, às rameiras da rua de trás), foi sempre o motivo de grandes berlaitadas, espanholadas e outras formas de sexo mamário, mas que agora, não eram tão frequentes.
Tempos do caraças!, pensou.
Sentiu-se diferente, seria o bacalhau que lhe estaria a cair mal, do vinho se calhar não, pois esta marca do supermercado não lhe costumava fazer azia.
Quando se dá conta do que era afinal o seu incómodo, apercebeu-se que as visões do passado na alembradura lhe trouxeram uma rebarba descomunal que lhe estava a crescer no meio das pernas e a cada olhar em que fixava o decote da mulher as ideias do passado e aquele par de mamas presente estavam a pô-lo ainda mais maluco.
A mulher, neste entretanto, continuava a botar faladura, protestando de temas vários e variados.
Bebe um gole de vinho, levanta-se, e dá um berro à mulher:
-- Cala-te caralho! Tou farto de te ouvir!
E arrasta-a para o quarto onde quase sem despir, e sem tão pouco lhe descobrir as mamas a penetra selvática e violentamente e aos gritos, chamando-lhe toda a sorte de barbaridades.
Ela calou-se, finalmente, apenas gritou de forma abafada quando atingiu o clímax.
Saiu de cima dela limpando o instrumento ao guardanapo que não tinha tirado do pescoço, e saiu para o café, para jogar à batota com os amigos.
Ele era afinal um bruto!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Contos do Varão I


A “zona vermelha” da cidade tinha nova atracção.
O Toni, habituados que estavamos a ver tudo dele, fez segredo da nova atracção do “Varão Vermelho”, só nos disse que era a gaja que andava a comer.
Não foi preciso dizer mais nada para nos deixar logo com os pelúcios todos arrepiados de antecipação, pois se o Toni anda a comê-la, é porque era pêssega na certa e de estalo como de costume. Fomos logo averbar o António Armário (porteiro/segurança/chulo/mulher-a-dias) com duas milenas para que nos garantisse entrada antes da hora para nos assegurarmos dos melhores lugares da sala, bem juntinho ao varão.
Ainda o estavam a polir quando chegamos.
O espectáculo começou, numa mistura de luzes e cor e música, que nós apreciamos bastante, assim como o próprio varão, do mais polido e brilhante mercurio-cromo que já se viu na cena da varonice nacional, ainda que se encontrasse um pouco baço por alturas do meio do espectáculo, o normal.

Pois, quanto à dita a artista, pois aquilo era um grotesco mastodonte badocha a esfregar-se pelo varão que só visto. Brutalidade! Acho mesmo que deu por lá um certo empeno ao varão.

Das duas três, ou o Toni está apaixonado (o que não acreditamos muito) ou está na altura da revisão dos 100.000 às lunetes que devem estar a precisar de ser trocadas, aquilo mais parecia o filma Orca, a baleia assassina a esfregar-se no varão ... que coisa hedionda ... p.q.p.!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Capôt Erotique


Mais uma noite em que acordou sobressaltado, com a respiração ofegante e o corpo melado e encharcado em suor.
O mesmo sonho húmido dos últimos dias parecia persegui-lo como se de uma assombração se tratasse ou uma perseguição por um cão feroz ou um alien daqueles cheios de dentes e que babam uma cena ácida qualquer.
Não se lembrava sempre, nem se lembrava de todas as vezes, do sonho todo, apenas pedaços desordenados e sem sentido, mas tinha uma ideia do quê, do onde, e com quem, e com algum esforço reconstruiu um croqui mental do sonho. Envolve o estar a fazer o amor na beira da estrada, em cima do capôt de um Fiat 127 verde limão, com uma actriz de cinema, em plena luz do dia, e com os carros a passar.
O psiquiatra, explicou-lhe que os recalcamentos de origem sexual escondem maus tratos em criança ou adolescente, pelo pai ou um irmão mais velho, ou um tio corpulento e seboso. Contudo, o seu sonho não lhe parecia totalmente estranho, ou porque outro doente já lho tinha relatado (por certo a actriz), ou porque ele próprio, numa encarnação anterior, fora uma actriz de cinema de baixo nível, e isso até explicaria a sensação que tinha quando o via de já se conhecerem de outro local ou tempo.
Procurou na net de muitas maneiras e feitios e nada.
Um dia estava a ver televisão, coisa rara, e numa série cómica qualquer viu uma actriz cuja cara lhe soou familiar. Procurou saber o nome da tipa e foi à net procurar outra vez e descobriu que a actriz, Ana Zanatti, tinha participado no filme “O Lugar do Morto”.

http://www.youtube.com/watch?v=UUyT-JZGJcM&feature=related [aprox. minuto 23]

Viu o filme e ficou pior, os sonhos ou pesadelos voltaram e ele não sabia mais o que fazer.
O “psi” ainda lhe sugeriu que fosse um dia à noite com um carro e a namorada e fizessem amor ali no sitio.
Isso havia de ter sido interessante, ... sobretudo se tivesse namorada.

Ainda chegou a falar com a agente da Ana Zanatti e o que conseguiu foi ter a policia à espera à porta de sua casa para lhe fazer perguntas tomando-o por um perigoso homicida, psicopata e teve de dar longas e demoradas explicações e direito a uma avaliação psiquiátrica…
Uns dias depois tinha uma ordem de tribunal que o impedia não só de estar perto dela como de telefonar, mandar e-mails ou mesmo ver as séries e programas, ou de participar assistindo a peças de teatro, e assim …

O “psi” a seguir sugeriu-lhe que ele pagasse a uma mulher da vida.
Ele bem que tentou mas, por um lado não encontrou nenhuma que se assemelhasse para tornar o “fetiche” perfeito, e por outro, as poucas a quem chegou a vias de facto o mandaram à fava, uma até lhe deu um par de tabefes.

Um dia o “psi” falou-lhe na sua assistente, a Alzira.
A Alzira era uma miúda roliça, tipo bola de Berlim, muito simpática e amorosa e prestável, mas que por ser assim redondita tirava a qualquer homem outras vontades que não fossem a de ir à consultas de “psi”.
Ele não disse que não e o “psi” abordou o assunto com a Alzira. Ela não respondeu logo mas na sessão seguinte, antes de ele entrar olhou-o com outro olhar, acercou-se dele e disse-lhe que saia à 20H00 e se ele quisesse podiam ir tomar um copo e falar melhor no assunto.
Era sexta à noite e foram tomar um copo ao “Fustiga-me!” um bar de bichonas à beira da praia, que pelos vistos ela conhecia bem e que, aqui podiam falar à vontade, sem que ninguém os incomodar.
Falaram boa parte da noite, dançaram, conheceram-se melhor e, resolveram então dar corpo ao sonho do rapaz mesmo porque, a rapariga já ninguém a montava desde tempos imemoriais … e estas oportunidades não se desperdiçam.

Estacionou o carro na berma do IC1 (antiga variante da N109), um pouco antes da Volvo, num local onde existia uma bomba de gasolina.

Ela sentou-se no capot ainda quente, subindo um pouco a curta saia e começou a refrega.
Ele nunca se tinha sentido assim, e por momentos fingiu imaginar que era de facto a Ana Zanatti que estava ali, e foi-lhe dando com as carnes com a necessária dose de violência e premeditação.
A Alzira deu por bem empregue a decisão de fazer a vontade ao Dr., e estava mesmo a pensar que, ...........aaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....................depois de uma boa avaliação psiquiátrica, podia selecionar um ou outro dos seus clientes, para que lhe fizessem sentir, ainda que em parte, o que estava a sentir ali e agora, até porque ..........aaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii ......... os orgasmos sucediam-se uns atrás dos outros, o que, pensou, é uma das vantagens de .................aaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiii........... de estar sem comer há tanto tempo.
Estava ele quase a atingir o clímax, ia ela já em mais que muitos, anunciados numa mistura de gritos e gemidos, ele até já via as cenas do filme em flashes de luzes flashes clarões estava quase quase quase eis senão quando, sai disparado para o chão, onde cai de costas, ela escorrega do capot para o chão e quando abre os olhos descobre que era a final um polícia que o puxou para trás desengatando-o da rapariga que, já sem apoio, cai redonda (como era) no chão num valente bate-cú.

Lá no chilindró foi a risota que já se adivinha, os polícias apelidaram-no de “coitus interrompidus”, excepto um rapazola maquilhado, que só sabia dizer -- que peninha, um rapaz tão bonito.
Foi liberto pelo “psi” que explicou ser um problema de saúde que foi resolvido da melhor forma, pois se não, alegou, podia este homem descambar para uma vida de criminalidade e andar por aí a violar as mulheres na beira da estrada, ou assim.

Entretanto lá voltou a tentar com a Alzira, entretanto refeita da queda, e com muito sucesso, não só no IC1, como na A1 e no IC24, na N109, e em plena A2, e N125.
Dizem que não voltam a tentar este ano porque a gasolina está cara e as portagens proibitivas, e ainda tem de mandar compor o capôt, entretanto amarrotado, mas já fazem planos para 2012, fazerem os miradouros todos da estrada da Sra. da Graça (promessa) e no túnel das Amoreiras e na N6 (na curva do Mónaco).

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Acidente





Vinham os dois completamente distraídos, cada um embebido nos seus pensamentos quando se encontraram no cruzamento. Não propriamente eles, antes os carros.



Ela saiu furibunda, o seu carrinho novo, quase acabado de sair do “stand”, estava agora com o farol partido.



Ele também saiu, mais calmo do que ela. Olhou de soslaio para o seu carro que fumegava da grelha.



-“Bem que já estava na hora de te trocar pá!” Pensou ele.



Voltou a sua atenção para ela, gesticulava, barafustava.



-“Energética”, pensou ele.



Reparou melhor, os peitos bem-feitos comprimidos conta o vestido justo, o decote q.b. e aqueles botões a cumprir a sua missão em esforço, pedem que alguém os liberte daquela tensão. Notou que o frio da manhã fazia-se notar e o tecido fino não disfarçava. Descendo, reparou que aquele vestido justo assentava-lhe muito bem, deixavam que as curvas das coxas mostrassem a sua evolução, harmónica numa perna perfeita, desde a cintura até ao tornozelo. Reparou então no rosto, olhos castanho amêndoa, olhar vivo, o nariz que lhe assentava bem, se bem que um pouco arrebitado e os lábios, volumosos por onde saíam aquela torrente de palavras. Interessante, deveras ela era muito interessante, então parou um pouco para escutar o que ela dizia.



-Já viu a trancada que deu? Perguntava ela.



- Por falar em trancada…

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Carta à Revista Maria

Cara Maria,

Sou um empresário modesto e fisicamente atraente de 35 anos, com um orgão sexual de alguma dimensão e pujança, e tenho uma vida sexual activa. Na verdade vivo bem e feliz. Contudo tenho um problema.
Vivo na minha casa, um T1+1 com garagem, no centro de Algés, e vivem também comigo seis gémeas de 26 anos, mulheres deslumbrantes, com quem também partilho a minha cama, e tudo o mais.
Não se pense que sou àrabe ou que professo alguma ceita oculta com rituais poligámicos ou assim, nada disso, apenas vivemos numa comunidade que criamos há alguns anos em que partilhamos tudo, nomeadamente partilhamo-nos uns aos outros.
Eu gosto mesmo muito de sexo, mesmo muito, e por isso, no ínicio isto foi algo como que a realização de um sonho, mas agora, confesso que estou a ficar cansado ao ponto de querer largar tudo e fugir.
Elas abusam de mim sexualmente sem parar, todas as noites (à semana) e todo o dia (fins de semana, feriados e dias santos). Há mais de oito anos que todas elas ao mesmo tempo enfiam partes de mim para dentro delas, em acelerado climax que é tão bom, mas mesmo tão bom, que chega a ser mesmo muito estranho!
Numa noite normal, ou dia (aos fins de semana, feriados e dias santos), tenho uma delas enfiada em cada mão e cada pé, no pénis e outra no conjunto boca-nariz, trocando regularmente de posição umas com as outras enquanto nos lambemos e chupamos todos uns aos outros, aquilo faz mais lembrar uma alucinação, ou um pesadelo, um novelo de carne feito de gente.
Quando atingem o climax, o que acontece várias vezes por noite, muito mais aos fins de semana, feriados e dias santos, atingem-no em crescente desfiar de gemidos e gritos de prazer e exactamente todas ao mesmo tempo!
No princípio achei isto um espectáculo mas agora, estou a ficar assustado.
Será que são extraterrestres?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Tens dores?







Violência Doméstica


«Quanto mais me bates, mais gosto de ti» -- murmurava ela, enquanto ele a sovava com eficácia.
«Adoro homens brutos e violentos como tu!» -- exclamava ela, depois de lhe ter sido aplicado um soco no estômago. Dobrada sobre si própria, ela pedia mais, e ele socava-a no queixo, no olho direito, no fígado.
«Força! – gritava ela. – Os teus socos são carícias para mim!» E ele não se fazia rogado, prosseguindo o seu trabalho com método: encontrões, pontapés, mais socos, joelhadas e toda a espécie de brutalidades.
Vinte minutos depois, ele parou, ligeiramente cansado. O espectáculo não era lá muito bonito de se ver: ela jazia sobre a cama, sangrando de várias feridas, salpicada de hematomas e contusões.
«Então? Porque paraste?» -- berrou ela.
Ele não se mexeu. O aspecto dela não era muito agradável. Pegou no casaco, deitou-o sobre os ombros e encaminhou-se para a porta da rua.
Ela ainda tentou detê-lo, mas faltaram-lhe as forças. No entanto, ainda exclamou com raiva: «Maricas!»

In Revista do PÃOCOMANTEIGA, Janeiro 1983

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A lente de contacto


Ela estava na empresa ao abrigo de um programa de intercâmbio com outras delegações, da empresa na área internacional. Ela era uma morena de cortar o fôlego. Linda de morrer. Aquela pele morena, que ela tão bem fazia a gestão do que era amostrável ao público, aquele corpo torneado em volta da cintura, donde uma linha de simetria estabelecia o busto e as ancas. Aquele seu andar bamboleante, como que embalar o corpo numa dança sensual. Até os seus cabelos negros tinham um reflexo indescritível quando o sol lhe batia. Batia forte no seu coração. Cada vez que ela vinha ao seu gabinete, o mundo parava, as frases transformavam-se em monossílabos. Ela, educadamente sorria e completava as frases com uma voz suave que ainda o deixava mais babado. Pensava como era triste a figura que fazia, que ela deveria achar que ele era um totó. Ele sabia que alguns dos seus subordinados, garotos mais novos já a tinham assediado. A todos ela manteve distância não lhes dando qualquer hipótese. Achava que as suas hipóteses eram nulas.
Certo dia ele teve que ficar até mais tarde, tinham uma proposta para entregar e o trabalho estava atrasado. Em bom rigor ela tinha resvalado nas datas. Ele ficou para a ajudar. Estava tão concentrado no trabalho que nem ficou nervoso ao pé dela. Foi então que deu conta que estavam os dois, lado a lado a trabalhar. Estavam tão próximos que, sentia o cheiro da pele dela. Talvez até o bater do coração. Encheu-se de confiança. Terminaram a proposta e deram um grito de vitória.
- Conseguimos acabar! Exclamou ele.
- Uff, estava difícil, respondeu ela. És o máximo! Acrescentou.
De repente ficaram calados a olhar um para o outro e ela baixou-se de repente e disse:
- Oh! Que chatice, caiu-me uma lente de contacto.
Ele abaixou-se também para ajudar a procurar.
- Não vejo nada no chão, disse ele.
- Talvez tenha saído do sítio, disse ela. Podes dar uma olhadela para dentro do meu olho?
- Deixa que eu seguro a pálpebra, acrescentou ele.
A pele dela era macia como seda, suavemente, ele segurou a pálpebra na esperança de ver a lente deslocada. Segurou melhor o rosto dela com ambas as mãos, então deu-se conta que os seus rostos estavam a centímetros um do outro. Ela então disse-lhe:
- Porque é que não fazes o que lhe apetece fazer?
Ele beijou-a sofregamente, ela retribuiu o beijo. As mãos dele vagueavam pelo corpo dela, ora suavemente ora de forma mais bruta. A mão dela, de forma decidida, desbotou-lhe a camisa e ajudou-o nos fechos mais difíceis. Amaram-se ali mesmo. No chão. Num rebolar constante contra os móveis do escritório. Acabaram em clímax perto da entrada do gabinete dele. Ficaram em silêncio durante algum tempo, até que ela se levantou, compôs-se e disse:
- Querido, poderíamos ir até à tua casa?
- Sim… claro! Respondeu ele a arranjar-se.
A viagem até casa correu entre sorrisos cúmplices. Em casa dele rapidamente exploram o quarto, a cama e acabaram outra vez amando-se. No final ela aninhou-se nele e preparou-se para dormir. Então ele rematou.
- Mas querida e a tua lente de contacto?
- Mas querido, eu não uso lentes de contacto. Respondeu ela.

Text by TALI BAN LACRAU

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cópias fora de horas





Ela era o patinho feio do escritório.


Talvez esta imagem até lhe era elogiosa a avaliar pela sua figura: estatura mediana, sem formas femininas definidas, cabelo mal-arranjado à rapaz, uns pelos que teimavam em aparecer no buço, óculos de lentes e armações e grossas, roupas largas e de alguns séculos atrás, falta de amor-próprio. Falta de amor de uma forma geral.



No escritório existia um clima de promiscuidade que lha passava ao lado. Apesar de sonsa, sabia bem que havia muitos esquemas que por ali pululavam. O clube dos solteiros divorciados e malcasados era numeroso e muito activo. Nunca sequer foi abordada, nem alvo de um mais pequeno assedio. Era assim a sua triste vida.


Certo dia depois de ter saído do escritório, em último lugar como era habitual, chegou ao carro e lembrou-se das cópias que esteve atirar durante a tarde.


- Oh raios, pensou ela, deixei as cópias na bandeja do papel para reciclar.


Voltou atrás e nem se deu ao trabalho de acender as luzes. A iluminação do parque de estacionamento entrava pela superfície envidraçada do “open space”. Daí até à sala de cópias era um salto. Entrou a tactear pelo interruptor e agarrou algo carnudo e quente. O grito foi abafado por uma mão. Uma voz disse-lhe:


- Não grites querida, sou eu. Disse a voz que lhe era conhecida.


Antes de sequer poder raciocinar, o homem da voz beijo-a sofregamente enquanto a envolvia com as suas mãos quentes, acariciando-lhe os seios as pernas e as coxas. Sentiu-se invadir por uma onda de calor e decidiu retribuir os beijos e carícias que aumentavam de ritmo. Sentiu-se ficar desnudada e sentiu o calor do corpo dele contra o seu. De repente estavam a fazer sexo em pé de encontro à fotocopiadora. Não sabia que ele era, mas isso também não interessava nada. Já há muito tempo que não se sentia assim tão mulher. Sentiu que se estava a atingir o clímax. Então uma onda tsunamica atravessou o corpo dela. Termia. Ele também ficou muito quieto e hirto. Esmagando-a conta a fotocopiadora.


- Ai querida – disse ele – nunca te tinha sentido assim.


Nesse momento acende-se a luz, observam-se admirados e mais admirada estava a colega dela de secretária.


- Que o que é que vem a ser isto, exclamou, combinas comigo aqui e lá porque me atrasei decidiste papar essa choninhas? Tchau, disse ela batendo a porta.


- Mas que surpresa, disse ele a rir. Melhor, mas que revelação.


Ela sorriu e respondeu-lhe: já acabaste ou ainda podemos continuar?


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sábado, 26 de novembro de 2011

Brutalidade Ternurenta




Rocky Redlips era um vaqueiro romântico. E, como todos os vaqueiros românticos era terno e bruto.
Sempre que chegava a casa, após um dia duro de trabalho, corria para a sua mulher e acariciava-a com amor e brutalidade.
Se a beijava, deslocava-lhe o maxilar. Se a apertava nos braços, partia-lhe duas ou três costelas. Se lhe afagava as coxas, era um fémur partido em dois sítios. Mas amavam-se – com esse amor selvagem e primitivo do Oeste.
Naquele dia, chegou a casa particularmente cansado.
Ela aguardava-o de braço ao peito – resultado da última refresa amorosa.
-- Querido – disse ela – Então não se lembra que dia é hoje?
-- Sexta-feira – respondeu Rocky Redlips, desapertando o cinturão e pousando a arma sobre a mesa tosca de carvalho.
-- Não é isso, meu amor... Hoje é um dia especial ... Então não se lembra?...
O vaqueiro fez um esforço de memória. Estava de facto muito cansado.
-- Então diga lá o que aconteceu faz hoje 5 anos ... disse ela.
E de súbito fez-se luz no espírito de Rocky Redlips. A sua boca abriu-se num largo sorriso, bateu com a mão na testa e teve morte imediata por traumatismo craneano.


In Revista do PÃOCOMANTEIGA, Fevereiro 1983

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A cabine



Aquela cabine, perdida num entroncamento de ruas à saída da vila, exercia sobre ele um fascínio indescritível.
Conhecia desde miúdo. Crescera com ela.
Tal como a namorada. Conhecem-se desde pequenos, a bem dizer os pais também se conheciam em crianças. Pensando bem talvez mesmo até os avós eram amigos desde pequenos.
É assim a vida no interior. Todos se conhecem e a vida desenrola-se num guião predestinado. Isso não o incomoda, de certa forma até o tranquiliza. Não há surpresas, pelo menos desagradáveis. A vida corre o seu curso normal. Como as estações.
Para o ano irá casar. Isso não o incomoda, tão pouco deixa-o exuberante.
Já algum tempo que a vida intima entre eles deixou de ser novidade. Também isso não fugiu à normalidade, ou tão pouco o deixou nas nuvens. Tornou-se rotina após as idas ao Pub aos sábados.
Mas havia qualquer coisa que o deixava acelerado: aquela cabine telefónica. Aquela cabine exortava os seus desejos mais eróticos. Tinha de a levar lá.
A oportunidade surgiu num dos regressos de uma ida ao Pub, o velho Austin começou a soluçar. Até que parou.
- Esta agora. Disse ele.
- O que é que se passa? Perguntou ela.
- Acho que o inverno deu cabo da bateria. Respondeu ele.
- E agora? Questionou ela?
- Bom, vamos ver se alguém passa, ou então teremos que chamar alguém para nos ajudar. Concluiu ele.
O tempo passou e não havia sinal de qualquer vivalma.
- Temos de ir a pé até à velha cabine telefónica e ligar para os pais. Disse ele.
Ela concordou e meteram-se a caminho. Quando lá chegaram, ele disse-lhe para entrar também, estava frio lá fora. Ela entrou.
Foi aí que ele percebeu que estavam na cabine dos seus desejos. Estavam esmagados um contra o outro. Riram-se da situação. Ele olhou para ela. De repente era como se não a conhecesse.
Reparou então que os seus olhos eram lindos, os lábios carnudos tinham um ar sequioso. Sentia o peito dela de encontro ao seu, parecia que estava arrepiada com frio. Sentiu as coxas quentes dela. Ficaram-se a olhar. Até que ele largou o auscultador do telefone e a agarrou ainda mais de encontro a si. Beijaram-se descontroladamente. Era como que uma vaga de insanidade os percorresse. As mãos de ambos perdiam-se por aquela malga de corpos. Sem saberem como já estavam semi-despidos e amando-se. Como nunca se tinham amado. Quando de repente o mundo explodiu, ele agarrou-a pela cintura com todas as forças que tinha, ela agarrou-lhe as faces e olhou-o fixamente antes de explodir num grito de êxtase.
Ficaram fixamente a olhar um para o outro sem saber o que dizer.
Acabaram por sorrir e trocar um beijo cúmplice. Doce.
Naquela cabine, perdida à saída da vila, descobriram-se.
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o Corsa

A relação já há muito tempo que estava a arrefecer. Havia qualquer coisa no ar, para além da música do Phil Collins que ela insistia em ouvir repetidamente. Seria um pronuncio de morte do namoro?
Ela queixava-se daqueles finais de Sábado, sempre passados no mesmo parque de estacionamento, que com mais ou menos discussão, acabava sempre no mesmo.
Ela estava farta, queria dar o próximo passo. No fundo ele sabia que ou evoluía ou a relação morria.
Foi por isso que nesse dia decidiu fazer-lhe uma surpresa: marcou um quarto para aquele hotel perto do parque. Aquele que tinha uma vista fabulosa sobre o mar. Aquele que ela estava sempre a falar: da vista e de como deveria ser fantástico estar lá no abrigo dos lençóis com a tempestade invernal lá fora. “Vai valer a pena o dinheiro que gastei no hotel “- pensou ele. Afinal, o que ele fez foi evitar o concerto mecânico do velho Corsa que teimava em aquecer.
- Para onde me levas? Perguntou ela.
- Já vais ver. É uma surpresa. Disse ele com um sorriso convencido.
- Mas este é o caminho para o parque. Retorquiu ela, já com um ar de enjoada.
- Também é. Respondeu ele com um ar enigmático.
A temperatura subia, não era só a dele, o termóstato do carro já há muito vinha no vermelho.
“Só mais um pouco”, implorava ele ao carro. Este não lhe fez a vontade. Talvez porque o velho radiador necessitava mesmo de ser substituído. Ou talvez porque o carro já não aguentava mais do que aquele percurso até ao parque. Pois foi aí mesmo que ele ficou.
- Eu sabia. Disse ela possessa da vida.
Saiu e bateu a porta com violência. Acendeu um cigarro e aí ficou de costas para o carro. Ele, não queria acreditar no que tinha acontecido. Ficou a olhar para ela lá fora, a fumar.
Estava com aquela saia curta que, tanto jeito dava. Reparou que hoje tinha apenas a blusa sobre o corpo. Ele também começou a aquecer. Fez-se homem e saiu.
Quando chegou ao pé dela, reparou melhor no decote, deixava antever os seios. Perfeitos. E naquela saia as suas coxas eram afrodisíacas. Ela reparou no olhar dele. Baixou a guarda, deitou fora o cigarro e como se já não houvesse amanhã, beijou-o sofregamente.
Ele num gesto repentino agarrou-a pelas ancas e empurrou-a contra o carro. Possui-a ali mesmo. Nunca tinham feito sexo desta forma. Como ela gritava, toda ela era movimento.
- Despacha-te. Gritou!
Mal ele terminou, ela levantou-se num salto e exclamou:
- A porra do capot está a escaldar! Disse ela.
“Afinal o radiador do carro, no seu último suspiro, ainda me ajudou”. Pensou ele
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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SEXO E VIOLÊNCIA ASSALTAM NOITE DO PORTO - Cidadão é mordido por cão raivoso



A cena passou-se numa destas noites frias de nevoeiro que cobrem o Porto na transição entre o Outono e o Inverno.

O casal vinha já tarde do Sá da Bandeira, de mais uma pornochanchada qualquer e ele, levava-a a casa, como convém a qualquer macho nortenho que se preze.
O filme tinha-os incendiado e pelo caminho já diversos ameaços de trancada tinham surgido por entre as sombras dos lampiões e ruas mal iluminadas …
Não aguentaram mais e… na ponte de ferro com o nome de Luiz I a coisa aconteceu, algures a meio do arco, ele de pé, completamente hirto, e ela deitada entre dois pilares, o pilar dele e o varão de ferro fundido que ladeia a ponte, onde o cuidadoso mas ardente cavalheiro cuidou de forrar com o casaco grosso que trazia…
A cena é a de sempre e enquanto tentavam à força toda aguentar-se, com os corpos rígidos e transpirados pelo esforço, ela com as costas a roçarem-se no varão de ferro e ele, agarrado com as duas mãos ao varão dando impulso e imprimindo o ritmo do movimento pélvico, ela apertava-lhe as coxas com as suas coxas enquanto cravava as unhas nas costas, a refrega parecia durar há horas, e ia quase no limiar da exaustão, mas na realidade apenas tinham passado alguns minutos, e a pressa também era muita não fora alguém passar por ali, apesar da hora.
De repente ele acelera o ritmo num prazer espasmódico e violento à medida que ela também o aperta mais e mais e o esfrega contra si até que ele balbucia qualquer coisa imperceptível, em suspirado prazer anunciando o início do fim quando, um cão vadio, possivelmente pensando que ele a estava a matar, ou apenas por estar raivoso, arremessa-se contra as suas alvas nádegas de boca aberta e bloqueia o maxilar nas mesmas sem conseguir sair.
Ela ainda deu por si a pensar por breves instantes na sorte que estava a ter naquela noite fria, e que no meio da brutalidade e vigor dele, lhe estava a dar tanto prazer, como nunca sentira antes, nem tão pouco ali, mal ela imaginava que a maior sorte dela estava no facto ainda não ter caído abaixo da ponte, e só quando ele começa a desfalecer e ela o tenta apertar contra si agarrando-lhe as nádegas é que viu que, afinal, havia por lá um cão raivoso e que, o que pensou ser a escorrencia quente que sentia nas coxas era afinal sangue.

A intervenção do INEM foi rápida e profissional como lhe é apanágio. Aliás só referida aqui porque elogiosa.

No hospital é que as coisas a foram … um pouco … como dizer, diferentes.
Para não dizer mesmo que foi de desproporcionada galhofa. Uma galhofa geral, que se estendeu a todos os pisos, em organizadas visitas à urgência de grupos de enfermeiros e médicos, e até alguns doentes, com a desculpa esfarrapada de ir à cafetaria forrar o estômago. Riram-se como já não havia história, ou registo, houve por lá um até que disse, um dos mais antigos, quase sem poder falar direito de tanto rir, que já não se lembrava de se rir tanto desde aquela história antiga do Hospital de Matosinhos, do casal inglês que entrou com uma queimadura de segundo grau, ruptura peniana e traumatismo craneano. Esse inglês contou aos médicos e enfermeiros que o assistiram, uma versão que por ser tão espontânea e dita sem gaguejar, todos a tinham como verdadeira, mesmo até porque havia indícios.
Então, estava ele a fazer panquecas para o pequeno almoço, todo nú, e a virá-las no ar, enquanto ela, também como veio ao mundo, lhe fazia sexo oral. Eis que senão quando, se lhe escapou uma panqueca que caiu a ferver queimando as costas da mulher. Num espasmo de dor ela trincou-lhe o pénis, e ele, em reflexo, fez disparar a sertã em direcção da cabeça.
Moral da história: a oralidade do sexo não deve ser acompanhada de panquecas (e vice-versa)… será que não? E com mel...?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Ameaça



Que queres afinal? – Perguntou ela apertando-o contra a parede do elevador.
Ele não se fez rogado e enrolou-a num abraço pela cintura, espremendo-a ao ponto de a sua respiração saltar. Ao mesmo tempo debruçou-se sobre o pescoço, inalando-lhe vagarosamente os vapores perfumados, percorrendo a distância em lânguida ascenção até à orelha e sussurrou enquanto lhe percorre as curvas formas com a língua: quero comer-te...
Os joelhos fraquejaram-lhe e, não fosse ter entrado gente tinha logo ali levantado a miniatura de saia e rasgado as meias.
O quarto dele ficava logo perto, dois pisos acima, e nele tudo se precipitou, num àpice, ou num pouco mais do que isso.

Perdidos num mar de lençóis retorcidos, mortos de exaustão, encharcados em suor, lambuzados, adormeceram finalmente, ela em cima dele, agarrados como se fossem um só, pela noite dentro trocando beijos e carícias e ...
De manhã ele acordou e deu por si sozinho. Dela tinha ficado o cheiro da carne na sua e a promessa velada num escrito a batom, de feições grafitescas no espelho do quarto...

Não perdes pela demora ...