quinta-feira, 7 de novembro de 2013

vazio silêncio




Não sabia o que fazer e no silêncio vazio do quarto de hóspedes e no escuro do sono que teimava em não vir e no tormento de um calor que emanava da cama e das paredes e do tecto e do seu próprio corpo e do ar que o tocava decidiu-se tomar um banho que tinha adiado.

Deitado na banheira, sob um chuveiro de água não gelada e não quente, conseguiu sentir a temperatura do corpo baixar descer e acalmar. Deixou-se por ali ficar uns instantes, tentando não adormecer.
Foi quando se preparava para sair, já quase não aguentava o corpo gelado, que sentiu no seu teimosamente rubro membro o toque húmido e quente de dois carnudos lábios.
Arregalou os olhos, quis sair dali, não lhe pareceu próprio mas afinal…   eram ambos maduros o suficiente para perceber que o lascivo desejo da carne não se explica apenas se fustiga enquanto nos consome com a força convicta em extremar o sentir nas sinapses do cérebro.
Amaram-se ali, sob aquela chuva quase fria quase quente que continuava  a cair, com a violência do desejo reprimido e no silêncio das palavras só se ouviram os gritos mudos da respiração e o trovejar do ritmo cardíaco aos trambolhões no peito de cada um.
Recompuseram a respiração e secaram-se, como se fossem amantes de longa data e soubessem os meandros do corpo um do outro já de cor e salteado, na intimidade cimentada em confiança antiga, de muito tempo já, mas não o eram.
Deitaram-se na cama grande, no quarto dele, em concha de antítese fumegante,  dois corpos frescos mas, ao mesmo tempo, ao rubro.
Acordaram de manhã, com a filha mais pequerrucha a pedir para ir à casa de banho e a reclamar da fome que lhe invadia o estômago.
Ela aproveitou e … saiu pouco depois de casa, um pouco embaraçada, e sem nada dizer.

À noite quando regressou, de olhos caídos como um cachorrinho, já os miúdos dormiam. Ele pegou-lhe na mão e levou-a a sentar no sofá da sala.

“Não precisas de dizer nada. Não te levo a mal teres saído de manhã sem nada me dizeres. Compreendo que não é fácil, os filhos são meus, e esta é a minha vida. Podes entrar nela por completo ou apenas apareceres sempre que te apetecer. O que for será. Não procuro ninguém à parte de momentos em que possa fazer alguém sentir-se bem e que eu possa reencontrar-me aí também, algum bocadinho para mim próprio.
Não tens de fazer parte da minha vida, e eu, tenho esta vida, não tenho outra, e gostava de continuar a partilhar contigo, ainda que só estes momentos, de longe a longe, mas bons e intensos, delirantemente deliciosos.
Entras quando quiseres, sais quando te apetecer, não sou teu nem tu és minha mas, ao mesmo tempo, somos sempre um do outro.”

Ela calou-o com um beijo e o sofá ficou uma lástima pela desarrumação e pelo cheiro a transpiração dos seus corpos.


Volta e meia, de quando em vez, reencontram-se sempre, como se o tempo entre o momento anterior e o de agora, não tivesse existido.