terça-feira, 10 de setembro de 2019

gaveta funda



Trabalhavam juntos, eram ambos casados, e no convívio do dia-a-dia adensou-se uma amizade profunda. Conheciam-se bem, e falavam de tudo das suas vidas um com o outro.
Um dia, ao pé do arquivo, uma palavra dita de forma um pouco enviesada, que saiu sem pensar e ao jeito de uma graça, ante a posição em que ela se encontrava a procurar uma coisa qualquer numa gaveta mais funda, rente ao chão, deu azo também, à consequente resposta igualmente torcida, dela, pois percebeu que, em local de trabalho, não se pode estar naqueles preparos posicionais impróprios, os mesmos em que se perdem guerras…

Outro dia, um golpe de anca, como que a dizer chega para lá, dá-me espaço, repararam ambos sem de dar conta, da firmeza, que os olhos já tinham visto, de soslaio, pela forma como a roupa assenta no corpo, no movimento.

Perderam a noção de como exactamente tudo se passou, mas a gota de água foi quando ela para o afastar o segurou pelas ancas arrastando-o para o lado e… ele nem se moveu, nem tão pouco as mãos dela se soltaram de coisa nenhuma, mas ao mesmo tempo, tão depressa o fizeram que quase imediatamente dali saíram para fazer, cada um, outra coisa qualquer. O mal estava feito, congelado quente nas suas mentes, na certeza de que estava errado, e ao mesmo tempo…

Há hora do almoço, incómoda e sem jeito, pediram um ao outro desculpas, mudando rapidamente de assunto para fait divers sem interesse, no meio do estridente ruído de fundo de talheres, pratos e copos.

Outra vez qualquer, igualmente irreflectida, ela repetiu o gesto, agarra-lhe a anca para o afastar para o lado, ele não se mexeu, ela também não, e nessa fracção de segundo, ela arremessa todo o seu corpo contra o dele, apertando-o contra o balcão, amassando a sua púbis contra o rabo firme, sussurrando-lhe ao ouvido: já não sais daqui.

O momento foi, apesar de tudo curto, longamente curto, mais nada aconteceu, mais nada disseram, continuaram a trabalhar.

Mas, dias depois, quando tinham ido mostrar uma casa a um potencial comprador e se asseguravam que todas as portas e janelas exteriores estavam trancadas é que tudo aconteceu. A haver culpa seria do seu provocador vestido vermelho, curto, onde em baixo se adivinhavam os ligueiros na perna bem torneada, ela voltou a apertá-lo por detrás, contra a parede, puxou-o pelas ancas para ela e disse: é hoje.


E foi.


Deitou-o no chão e abriu-lhe as calças com a certeza da posse e do desejo ressabiado já de louca espera e sôfrega chupou-lhe o membro que parecia crescer a cada ímpeto dela. Possui-o ali, ele deitado no chão, ela de cócoras em cima dos tacões altos e vieram-se uma e outra vez em cada subida e descida…


De repente, ela cai ao chão desamparada, cobrindo-se o melhor que podia, e ele ficou só de boca aberta a olhar…    para o potencial cliente que tinha voltado para trás que se tinha esquecido do telemóvel...