Pensava para si próprio, quem somos nós para julgar os outros pela aparência? Ninguém, é certo, mas porém admitia que não faziamos nós outra coisa que não fosse julgar, avaliar, decidir, opinar a cada passo, quando olhamos ou observamos as pessoas quando nos cruzamos e entrecruzamos na rua, nos transportes públicos, ou quando lhes cedemos a passagem do conforto do nosso carro. Pensava nisto enquanto recordava um casal, que tinha visto há poucos dias, num jardim público, enquanto passeava pela cidade, um casal interessante, e do qual apenas teve pena de não lhe ter tirado uma fotografia, ainda que subrepticiamente e, por certo, tremida, e desfocada.
Sentados num banco de jardim estava então um casal.
Ela era gordinha, na realidade era uma bola, ainda que, como bola, não fosse muito grande. Loira natural e branca. Fumava um cigarro encostada a ele.
Ele, negro, retinto como a noite escura, mais musculado do que magro, mãos duras e magras de aparência.
Ambos bem juntinhos de braço dado e mãos entrelaçadas uma na outra, à conversa, olhando em frente, para parte nenhuma.
Era estereotipada a forma com que ele os olhava, concluindo que ele teria uma tara por gordinhas de pele branca, um fectiche para ele, e seria por certo ela uma fetichista por negros de ébano feitos e membro desporporcionado, para a sua raça, não a dele.
O observador era branco, e por isso a sua observação estava condicionada à inveja com que os brancos invejam sempre a forma e a dimensão com que supõe todos os negros virem equipados de origem.
Ao passar e observar aquele quadro, a sua mente perversa, que possuia um chip integrado que acrescentava laivos de pornografia em tudo o que via, por momentos, alguns segundos se tanto, congeminou logo ali um desfiar de visões fantasiosas, quase reais, daqueles dois envoltos em prazeres carnais, imaginando-os amando-se com tal ferocidade e violência que quase a sentiu ele próprio, como se fosse ele um deles ou os dois, tal a força das visões das suas formas e cores contrastantes em movimento. Viu-os nús, sentados naquele mesmo banco de jardim, ela em cima dele, ele afundando os dedos negros nas suas nádegas e costas, gordas e de um branco leitoso, enquanto que se enterrava dentro dela e ela, replicava o seu ritmado movimento pélvico em aparentes espasmos musculares esfregando-se conta ele em acelerando crescendo, apertando-o contra as madeiras do banco, gritando a cada passo e ele com a cara por entre o peito dela, quase sem conseguir respirar, arfando forte e profundo, sufocante.
Lembrou-se de um filme qualquer, hard-core, talvez o tivesse visto em anos que já lá vão, no Sá da Bandeira, ou assim, algures nas trazeiras de uma memória qualquer, recorda-se de uma gaja aos gritos, «Não pares!» Repetia-lhe ela, numa cena de pura violência em que ela forçava o seu corpo contra o dele, em movimento rítimico, que ele se esforçava por acompanhar. Ele visívelmente cansado, esgotado, e aquela cama que tinha que ranger e bater contra a parede, de forma que irritava e desconcentrava (mesmo para a plateia). Os seus corpos já se desfaziam na liquidez quente e húmida dos fluidos que trocavam, e que produziam ruídos melosos, por sentre o seu esforço para chegar ao clímax, talvez os dois, ao mesmo tempo, um pelo outro e em uníssono. A respiração era já um arfar violento e entrecortado de gemidos abafados e os seus dois corpos, misturavam-se em abraços, apertões, mãos cravadas na carne, e ao mesmo tempo de pequenos gestos carinhosos, contrastantes.
Pestanejou e a visão ... dissipou-se.
Já não sabia distinguir qual das imagens era a que viu, a do filme ou a outra. Tão rápidamente quanto tinha aparecido a visão, ou visões, desapareceram, e não se deu mesmo ao trabalho de olhar para trás, para eles, para confirmar o que era afinal real ou irreal. Se calhar com medo, de saber o que era real do irreal, com medo de confirmar que a visão que teve tinha ou não existido, fosse visão ou realidade vista. Confuso.
Seguiu em frente sem ter a certeza, preferiu assim que de outra forma fosse.
Ficou sem saber.
Contam-se muitas lendas urbanas sobre a origem deste nome, vão desde a designação atribuída ao filho mais velho de um casal de comunistas na exRDA (Alentejana), até ao modo como um Mouro que trocava os Bês pelos Vês se referia ao Barão Vermelho. Nós cremos acreditar que se trata de um varão de inox duma respeitável "Casa de Chá” utilizado em descidas acrobáticas por uma artista dotada de alguns talentos que estava num daqueles dias… desde aí se mantém de um vermelho mercurio-cromo imaculado!
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
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