sábado, 14 de janeiro de 2012

Peixinho Lindo


Como tantos outros casais, ou duplas, o João e a Maria tinham o sonho de viajar por locais longínquos e exóticos, conhecer os sítios mais paradisíacos e inóspitos até.
Naquele Inverno, resolveram fugir à Europa e passar uns dias num hotelzinho simpático nos arredores de Manaus, bem no meio da Floresta Amazônica. Um hotel fantástico em cima do rio, com todos os luxos a que tinham direito, e a possibilidade, que sempre os fascinou de se espraiarem por entre os meandros do Rio Amazonas em despreocupados passeios a dois.
Como jovens modernos e sexualmente activos, aproveitavam cada período de férias para, fugindo à rotina diária, darem azo a uma certa libertinagem e ousadia fazendo amor nos locais mais impróprios, pelas mais variadas razões, mas sobretudo porque os excitava e mais até porque lhes apetecia, como foi o caso da casa de banho do avião que os trouxera até ali.
Já tinham feito amor em diversos rios e ribeiras, mares e oceanos, lagos e polibans mas, o Rio Amazonas era um fetiche antigo, se é que podia dizer tal coisa.

A tarde daquele dia estava particularmente quente e o teor de humidade na casa dos 80% ainda que não houvesse previsão de precipitação, dirigiram-se ao rio sozinhos. Tinham muita experiência de navegação no mar e em rio, e já dominavam os percursos por ali à volta.
Num dos barcos tradicionais, motorizado, esgueiraram-se até ao Igarapé Jacaré Ubal, alguns quilómetros afastado do hotel e onde podiam fácilmente estar à vontade, escondendo o barco de olhares curiosos.

Ali chegados mergulharam nas águas turvas do Amazonas e encontraram-na suficientemente quente. Ele estava absurdamente hirto e ela quase pulava de tanto pulsar. Sem retirar os fatos de banho fizeram o amor semi-submersos nas águas numa gritaria frenética, pois eram ambos bastante ruidosos como amantes e isso, aliado ao fetiche que estavam a realizar, multiplicou-lhes o prazer, e consequentemente a gritaria.
Estavam a amar-se pela segunda vez sem tirar, quase a chegar ao clímax, quando João e Maria sentem uma ligeira sensação de picada nos pés que os incomodou a ambos, ainda que não os magoasse. Concluiram ser uma planta ou a raiz saliente de uma delas, mas a sensação de picada foi lhes subindo até aos ombros semi-submersos. Não perceberam o que era, não os parecia incomodar, e além do mais estavam demasiado sôfregos a amarem-se.



Dois dias depois a Polícia Federal do Estado de Manaus encontrou o barco e as roupas, recomendando no seu relatório do seu desaparecimento do casal, que a industria hoteleira da região deveria ser mais insistente, persistente e intransigente com os turistas, avisando estes que estudos científicos revelam que tomar banho no Rio Amazonas, não sendo muito perigoso, torna-se bastante mais perigoso se houver lugar a libertação de endorfinas no corpo humano, em especial se associadas ao acto sexual, constituindo-se num poderoso chamariz para a população local de Pygocentrus Piraya , o que habitualmente resulta em desgraça.

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