domingo, 4 de dezembro de 2011

Violência Doméstica


«Quanto mais me bates, mais gosto de ti» -- murmurava ela, enquanto ele a sovava com eficácia.
«Adoro homens brutos e violentos como tu!» -- exclamava ela, depois de lhe ter sido aplicado um soco no estômago. Dobrada sobre si própria, ela pedia mais, e ele socava-a no queixo, no olho direito, no fígado.
«Força! – gritava ela. – Os teus socos são carícias para mim!» E ele não se fazia rogado, prosseguindo o seu trabalho com método: encontrões, pontapés, mais socos, joelhadas e toda a espécie de brutalidades.
Vinte minutos depois, ele parou, ligeiramente cansado. O espectáculo não era lá muito bonito de se ver: ela jazia sobre a cama, sangrando de várias feridas, salpicada de hematomas e contusões.
«Então? Porque paraste?» -- berrou ela.
Ele não se mexeu. O aspecto dela não era muito agradável. Pegou no casaco, deitou-o sobre os ombros e encaminhou-se para a porta da rua.
Ela ainda tentou detê-lo, mas faltaram-lhe as forças. No entanto, ainda exclamou com raiva: «Maricas!»

In Revista do PÃOCOMANTEIGA, Janeiro 1983

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