terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Punheta


-- Ó Mulher, faz-me uma punheta de bacalhau!

E lá se sentou ele à mesa com o pão, o vinho e a mais deliciosa das punhetas que alguém lhe tinha feito. Naquele dia a mulher tinha caprichado, por um lado o bacalhau era excelente, norueguês, e muito bem demolhado, com o sal no ponto certo, a cebola era picante mas não em demasia, as azeitonas da Filha da Mãe Preta, que a cunhada trouxera lá do Norte no fim de semana, e o azeite ... um verdadeiro néctar dos deuses.
Tudo estava a saber bem, a cada garfada, cada naco de pão, e cada gole de vinho.
Ia a garrafa a meio e deu por si a reflectir na vida e, na gaja que tinha à frente, no porquê de estar com ela e na evolução que os sentimentos tinham levado desde que o dia em que disse o “sim” até àquela noite chuvosa de quase Inverno onde por mero acaso fazia anos, e deu-se ao luxo de ordenar à mulher que lhe fizesse uma punheta. A vida dá muitas voltas e as voltas que a vida dele deu não foram as melhores, mas enfim, ia-se vivendo à razão de um dia de cada vez.
Neste entretanto, e desde que lhe pediu para fazer a punheta, a mulher não se tinha mais calado, queixava-se de tudo e mais alguma coisa, da sanefa do quarto que tinha caído, da lâmpada das escadas do prédio que tinha fundido, da roupa que ele atirava para o chão, das meias que descobriu na máquina de lavar louça, do cabelo e unhas que precisava de arranjar mas que não podia por causa do dinheiro que ele gastava em copos e no futebol com os amigos, e do clássico ... da tampa da sanita. Uma gralha daquelas que dá vontade de lhe dar um sopapo para a mandar calar. O que lhe valia, pensou, é que não só não estava a prestar atenção como já não a estava a ouvir bem, ensurdecia a cada gole do vinho o que, bem vistas as coisas, lhe parecia bem.
Naquela noite, apesar do frio, a mulher que sempre fora uma mulher acalorada, estava sentada à sua frente na mesa, com a bata por cima da roupa, por baixo trazia uma blusa com um decote enorme que lhe deixava ver que a combinação e, não cobria nada bem o colo do avantajado peito que ela tinha. Deu por si a pensar, no meio da neblina de origem vinícola que se começou a formar nos seus pensamentos, que era afinal o que ele mais apreciava nela desde os tempo de namoro, e de onde aliás resultaram então incontáveis sonhos húmidos e esgalhadelas de pessegueiro.
Mandava um peito avantajado e bem feito que, ao longo dos anos, e mesmo apesar dos filhos e dos quilos a mais, se tinha mantido muito bem.
Desde que a tirou da vida, conheceram-se no “Varão Vermelho”, onde ela se esfregava no poste apenas de fio dental, e onde noite após noite a ia ver actuar ( o que normalmente dava asneira pois ficava tão quente que ora tinha de ir aliviar a galga ao WC ou, quando tinha mais umas massas, às rameiras da rua de trás), foi sempre o motivo de grandes berlaitadas, espanholadas e outras formas de sexo mamário, mas que agora, não eram tão frequentes.
Tempos do caraças!, pensou.
Sentiu-se diferente, seria o bacalhau que lhe estaria a cair mal, do vinho se calhar não, pois esta marca do supermercado não lhe costumava fazer azia.
Quando se dá conta do que era afinal o seu incómodo, apercebeu-se que as visões do passado na alembradura lhe trouxeram uma rebarba descomunal que lhe estava a crescer no meio das pernas e a cada olhar em que fixava o decote da mulher as ideias do passado e aquele par de mamas presente estavam a pô-lo ainda mais maluco.
A mulher, neste entretanto, continuava a botar faladura, protestando de temas vários e variados.
Bebe um gole de vinho, levanta-se, e dá um berro à mulher:
-- Cala-te caralho! Tou farto de te ouvir!
E arrasta-a para o quarto onde quase sem despir, e sem tão pouco lhe descobrir as mamas a penetra selvática e violentamente e aos gritos, chamando-lhe toda a sorte de barbaridades.
Ela calou-se, finalmente, apenas gritou de forma abafada quando atingiu o clímax.
Saiu de cima dela limpando o instrumento ao guardanapo que não tinha tirado do pescoço, e saiu para o café, para jogar à batota com os amigos.
Ele era afinal um bruto!

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